Quilombo Campo Grande resiste!

Nota de apoio aos trabalhadores sem-terra

Duda Sansão

Nos últimos vinte anos, trabalhadores e trabalhadoras do MST têm construído o Quilombo Campo Grande em Campo do Meio, sul de Minas Gerais. Resultado da ocupação de terras da falida usina de Ariadnópolis, o acampamento é composto por cerca de 450 famílias, que trabalham pela produção das condições materiais de existência da vida. O café orgânico Guaií é um dos exemplos da produção organizada pelos trabalhadores que constroem a resistência a partir do alimento e da luta pela terra. 


Nas últimas semanas, os moradores da área têm enfrentado a arbitrariedade da Polícia Militar, que tem agido de forma ostensiva: casas de acampados foram invadidas e um sem-terra foi preso, configurando claras tentativas de intimidar e coagir os trabalhadores. Desde então, configurou-se um cenário de ameaça, tormenta e ações autoritárias para os moradores da área. Hoje, 12 de agosto, o Quilombo Campo Grande sofre com uma reintegração de posse realizada de forma truculenta e de modo que fere a vida e a organização dos trabalhadores. 


Entendemos que se trata de uma decisão não apenas ilegal, uma vez que ignora o princípio constitucional da função social da propriedade, mas também truculenta e covarde, fruto da pressão política exercida por alguns dos mais nefastos aliados do governo genocida de Romeu Zema. O despejo das famílias intensifica um quadro de vulnerabilidade e ignora o trabalho realizado na área nos últimos anos, que se tornou uma referência no trabalho agroecológico. Além das moradias afetadas, a ação de reintegração de posse atinge também a Escola Eduardo Galeano, estrutura fundamental para garantir a educação de crianças, jovens e adultos do Movimento. 


Na conjuntura que enfrentamos, crime é o despejo durante uma crise sanitária sem precedentes. Representa um retrocesso à luta pela terra e a produção de condições de vida mais dignas. Fazemos coro aos lutadores e lutadoras do Movimento do Trabalhadores Rurais Sem Terra, que seguem resistindo nas trincheiras pela reforma agrária e pelo poder popular, e clamamos por justiça e reparação pelos abusos sofridos.