Contra o Medo: renovar a esperança, unir o povo e reconstruir a nação
(Nota do Ihudd contra o Estado de Golpe)
“Toda noite — tem aurora,
Raios — toda a escuridão.
Moços, creiamos, não tarda
A aurora da redenção.”
Castro Alves
Foto: Taba Benedicto/Estadão Conteúdo
O resultado do último 7 de Setembro deixou uma lição: mais perigoso que o eventual golpe que possa ser dado, ou aprofundado, é o estado de golpe permanente que Bolsonaro faz uso para manobrar seus aliados e, ainda, produzir uma verdadeira tortura psicológica nos seus opositores.
Na última semana, fomos bombardeados por todos os lados com dúvidas sobre os rumos da nossa democracia. A ameaça reiterada do presidente sobre uma ruptura institucional fracassou fragorosamente hoje. Bolsonaro, tentando impor um clima de terror e divisão entre os brasileiros fez uma aposta golpista que o cenário de caos social e desesperança fariam o povo aderir a agenda fascista
A data escolhida como o palco foi o Dia da Independência nacional, trazendo uma proposta de nacionalismo divisionista que privilegiava apenas uma minoria reacionária.
A agenda do povo não está na liberdade das armas e do discurso de ódio munido com falso patriotismo, discursos beligerantes e uma grande mobilização de recursos e pessoas para tentar sustentar um governo impopular, corrupto e incapaz de superar a crise em que estamos.
Autoritarismo como saída para a debilidade
O que de fato estava por trás de toda narrativa e arroubos autoritários era na verdade uma grande demonstração de fraqueza. Um governo sem sustentação popular, usando de todos os meios e recursos possíveis teve uma baixíssima adesão da sociedade. O comparecimento aos atos foi 5% do esperado nas principais cidades, que ao longo do dia foi se esvaindo e radicalizando.
A resposta para isso é apenas uma: essa não é a agenda do povo brasileiro, não representa nem as necessidades históricas, muito menos os valores dos nossos cidadãos que anseiam por paz, por prosperidade e pela capacidade de conseguir planejar seu futuro.
O Brasil enfrenta um cenário de crise aguda atingindo todas as esferas da vida comum. De um lado uma crise política que torna incapaz a coalizão dos diferentes setores no plano interno em torno de um projeto comum e nos isola no plano internacional; uma crise institucional entre os poderes, com a pretensão do Executivo em subjugar os demais poderes pelas armas e pela máquina pública, criando uma desarmonia que traz ainda mais imprevisibilidade.
O fracasso econômico do plano Guedes
Por outro lado, a “promissora” agenda econômica neoliberal, que apostava na desregulamentação trabalhistas e na desnacionalização da economia como forma de estabilizar o mercado e aumentar os investimentos no país, apresentou o exato oposto. Hoje o Brasil convive com mais de 14 milhões de desempregados e 6 milhões de pessoas que perderam a esperança de encontrar trabalho, além de uma taxa de endividamento que atinge 7 de cada 10 brasileiros, um salário mínimo pelo terceiro ano sem reajuste real e um aumento no custo de vida, onde a cesta básica representa 60% do salário.
A desestatização econômica e a ausência da fiscalização ambiental, fragilizou na prática nossa capacidade de planejamento, colocando o nosso país frente a uma crise hídrica sem precedentes e uma alta generalizada nos preços, agravada pelas sucessivas altas nos preços nos custos de produção básicos como combustíveis e na conta de luz.
Como não bastasse os péssimos indicadores socioeconômicos, ainda convivemos com um quadro da pandemia que já matou mais 580 mil de brasileiros, deixando para trás famílias enlutadas e sem perspectiva de receberem qualquer reparação pelas omissões criminosas do Governo Bolsonaro. A pandemia escancarou nossas desigualdades, surgiram novos 40 bilionários, enquanto mais de metade dos brasileiros estão em insegurança alimentar e a fome voltou a ser a realidade de milhões de nós.
O Brasil tinha capacidade de ser referência no combate a pandemia, pela sua capacidade de produção/replicação de imunizantes, sua expertise em campanhas de vacinação, um sistema público de saúde capilarizado em todo o território e um histórico de boas relações com os principais países do mundo.
A pauta que nos une é a necessidade de superação dessas inúmeras crises. É preciso retomar o investimento público para estabilizar a demanda, gerar urgentemente milhões de empregos, a retomada das indústria para alocar em vagas qualificadas a crescente massa de pessoas com ensino superior, resgatar o incentivo ao trabalho regulado com direitos ao descanso, ao lazer e ao cultivo das relações familiares, comunitárias e interpessoais. É preciso reconstruir nosso tecido social naquilo que nos torna brasileiro.
Contra o medo, a arma dos tiranos
Mesmo com todas as dificuldades, temos certeza que é possível reconstruir nosso país e torná-lo novamente grande frente ao mundo e um motivo de orgulho entre nós. Resgatar a autoestima é fundamental, porque não há nação sem alma, nem desenvolvimento com subordinação.
Os atos do 07 de Setembro comprovaram que não devemos temer ocupar as ruas e lutar pela nossa independência de verdade; pela nossa liberdade de poder escolher o que comer e não qual refeição iremos fazer; por um crescimento com oportunidades; por um futuro de prosperidade e paz. O Brasil é muito maior que o Bolsonaro! Ele não representa nossos interesses, nossa vontade, nem apresenta qualquer condição de se manter na Presidência.
Fora Bolsonaro! O Brasil não anoitecerá e mais uma vez a esperança vai vencer o medo.