Algoritmos e a diferença social

As desigualdades sociais tomaram esteroides e agora contam com a força dos algoritmos (Por Marcos Mendéz)

Marcos Méndez

No limite das habilidades de programação de primeira qualidade, onde o estilo de programação mais moderno e os melhores profissionais do mundo de T.I trabalham com responsabilidade social e certa autonomia um novo tipo de autocrítica e questionamento começa a surgir. Será que fomos longe demais?

No começo de 2011 no Brasil o Uber chegava como uma novidade, maquiado como o lobo da chapeuzinho vermelho usava o argumento da “economia compartilhada”. Muito livros com esta abordagem “empreendedora” começaram a surgir. Em meio a uma crise que nos golpeou em 2008 a tempestade parece estar durando já 12 anos.

Neste início de século XXI muitos vendedores do setor industrial, consultores de vendas, profissionais liberais, e tantos outros profissionais que estava empregados até o final do Século XX começam a ver os primeiros efeitos da automação tecnológica da internet 2.0. Frameworks para automação de vendas e lojas virtuais começam a criar pequenos gigantes em plataformas como Mercado Livre e B2W. Os primeiros gigantes do varejo começam a se destacar como Magalu que até poucos anos atrás não passava de uma loja de departamento do interior paulista. A abordagem tecnológica destes empresários começou a criar um leve desemprego que seria visto 10 anos depois e que seria usado por empresas como a Uber para “resolver problemas de last mile” no transporte urbano.

A conjuntura social e política brasileira tem 500 anos, porém somente uns 20 anos de fibra ótica.

Assim como no começo do século XXI jamais pensamos que o desenvolvimento de tecnologias de marketplace e sistemas de venda online iria gerar uma massa de desempregados que anos antes eram os responsáveis por realizar estas vendas e atuar como consultores de seus devidos mercado e setores, hoje vemos a história se repetir com aplicativos de entrega e transporte público como Uber e Rappi que priorizam o trabalho precarizado e a estagnação no pagamento aos investidores.

Temos a bola de neve perfeita da especulação capitalista. Aplicativos que não geram lucro aos investidores e ao mesmo tempo não pagam ao operador saldos justos pelo seu trabalho.

Neste sentido e após um devaneio matinal creio que Michael Hardt e Tony Negri poderiam fazer um Império-Multidão e um Multidão-Multidão para começar a expor as novas relações de controle social que começam a ser desenhadas neste começo de milênio, a pequena classe média que teve acesso ao alguns padrões de consumo, começa a ser explorada por ela mesma ao investir em si mesma como motorista e usuário de Uber, como rentista e como cliente. 

Perfeito o que isso tem a ver com algoritmos e diferenças sociais? Bom, a questão é que estes algoritmos utilizados por empresas de tecnologia de grande porte normalmente são profundamente enviesados na realidade que os rodeia como neste exemplo no Facebook employees say company tolerates racism. Os algoritmos de empresas de RH que favorecem currículos de profissionais brancos. Ou pior ainda, as poucas mulheres no mercado de tecnologia que deixaram carreiras em empresas “promissoras” com o argumento de sentirem e viverem uma discriminação que é “invisível” Women say they quit Google because of racial discrimination: 'I was invisible'


O Livro de Wendy Liu Abolish Silicon Valley: How to Liberate Technology from Capitalism dá uma introdução ao assunto e faz algumas sugestões de como resolver este problema tão sério. Nosso horizonte de possibilidades para resolver o problema passou deixou de ser algo que até pouco tempo era muito amplo e começou a mostrar sintomas que são profundamente assombrados por uma possibilidade distópica de futuro onde o escravo é escravizado por si mesmo.

Não queremos perder o bonde de criarmos um mundo justo, mas o momento é de pragmatismo. Acredito que isto seja parte do paradigma e da equação a final de contas tudo é nada ao mesmo tempo que é tudo nesta era de “pós-modernidade”.

Como criar um mundo justo usando-se de tecnologias para isto quando as experiência no passado se demonstraram ser profundamente desiguais? No final de contas as tecnologias sejam elas quais forem ao longo da história da humanidade tiraram do homem/mulher qualquer igualdade natural que pudesse haver entre eles e fortaleceram a criação de uma indústria educacional que fortalece estas diferenças dentro de uma ótica iluminista como a de Rousseau. Micro diferenças foram cada vez mais exacerbadas. O hormônio do crescimento foi o colonialismo que nos fez sairmos de uma idade infantil para uma idade adulta perversa. E agora já nos nossos 10 mil anos de civilização chegamos ao século XXI e começamos a tomar esteroides chamados de “economia compartilhada” de casas no AirBnb e Carros no Uber.


O cooperativismo de plataforma pode ser uma opção mas não é o suficiente. É necessário uma alternativa não somente trabalhista mas também sócio-educacional. Para todo modelo de opressão no trabalho precisamos ter uma alternativa comportamental que se sobreponha e se imponha. Os valores do empreendedorismo devem prevalecer vigentes a final são eles que formam a base liberal que se perdeu ao responsabilizar o estado por tudo. É do empreendedorismo que surge o primeiro passo do indivíduo para sua emancipação financeira, porém não pode-se perder o aspecto social do trabalho e principalmente o cooperativismo natural do ser humano, a solidariedade, a exaltação da cooperação em contrapartida à competição. Políticas de educação regional e a formação da base trabalhista.

Finalmente e mais pra frente gostaria de abordar a questão da apropriação dos meios de produção, estes são intelectuais, informacionais e fabris do século XXI. Neste sentido por primeira vez na história temos a capacidade como indivíduos de possuir uma pequena fábrica de informação dentro de nossas casas junto com uma fábrica de objetos e ferramentas. 

 

É o advento dos servidores de código livre, impressoras 3d, ferramentas de usinagem avançada permitem que você construa um satélite dentro do escritório da sua casa e faça o lançamento no pátio de sua escola. Os adventos fabris são profundamente esperançosos e não há passo atrás nesse sentido. São conquistas emancipatórias que os movimentos sociais ainda sequer conhecem ou compreendem porém toda esta base intelectual deve prevalecer e se fortalecer dentro de diretivas GNU https://www.gnu.org/gnu/manifesto.pt-br.html

Por isso é necessário começarmos a desenhar um futuro do zero. Como um projeto de engenharia para re-desenharmos as relações de trabalho, fabris e informacionais como o desenho de uma casa, ou um projeto feito do zero, abordarmos os desafios a nível social e de maneira objetiva e racional resolvê-las como engenheiros ou soldados. O reformismo pode trazer os vícios do sistema passado. É necessário nos colocarmos no papel de cumprir estas missões e objetivamente usar das estratégias que temos debaixo das mangas para construir um novo século XXI.